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A dedicação feminina



Essa semana tivemos na mídia a notícia de que a cantora Preta Gil está passando por um processo de separação enquanto também trata um câncer de intestino. O relacionamento já estava fragilizado, mas o término se concretiza em um momento delicado, tendo em vista o tratamento de saúde complexo de Preta. As contas e sites de notícias sobre artistas e famosos dão conta de que o ex-marido da cantora estaria saindo com sua ex-stylist desde antes de terminar o relacionamento.  A notícia gerou indignação nas redes sociais pela falta de empatia em um momento tão delicado para a mulher. Isso traz a tona a necessidade de falarmos sobre a dedicação feminina aos outros e em relacionamentos e como a construção social nos cega e nos impõe uma subserviência eterna, enquanto não somos vistas com empatia por nossos parceiros e pares. 

A dedicação feminina nos relacionamentos e cuidado com terceiros é uma característica culturalmente atribuída às mulheres. Desde cedo, meninas são ensinadas a serem cuidadoras, empáticas e atentas às necessidades dos outros, o que muitas vezes se reflete na forma como elas se comportam em seus relacionamentos amorosos e familiares. Infelizmente, essa dedicação comumente não é valorizada e pode se tornar um fardo, especialmente em situações de doença ou prisão.

Diversos levantamentos apontam que muitas mulheres são abandonadas por seus parceiros quando são diagnosticadas com câncer ou outras doenças graves. Segundo uma pesquisa realizada pela Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, homens têm três vezes mais chances de deixar suas parceiras quando elas são diagnosticadas com câncer de mama. Além disso, muitas mulheres são deixadas à própria sorte quando seus maridos são presos, tendo que lidar sozinhas com a criação dos filhos e a manutenção do lar. Por outro lado, as mulheres tendem a continuar cuidando de seus parceiros mesmo em situações adversas. Um estudo publicado no Journal of Marriage and Family apontou que, quando um homem é preso, a probabilidade de sua esposa se divorciar é de apenas 5%, enquanto que quando uma mulher é presa, a probabilidade de seu marido se divorciar é de 80%. Isso mostra como as mulheres são mais propensas a permanecerem ao lado de seus parceiros, mesmo em situações difíceis.

Essa diferença de comportamento entre homens e mulheres pode ser atribuída a diversos fatores, como a socialização de gênero, o machismo e a falta de empatia masculina. Enquanto as mulheres são ensinadas a cuidar, os homens são incentivados a serem autossuficientes e a não demonstrar fraquezas. Isso pode levar a uma falta de compreensão e de apoio por parte dos homens quando suas parceiras estão passando por momentos difíceis.

A dedicação feminina nos relacionamentos e cuidado com terceiros é uma característica valiosa e importante, mas que muitas vezes não é reconhecida e valorizada. É preciso que a sociedade como um todo se torne mais empática e compreensiva, especialmente em relação às mulheres que enfrentam situações difíceis como doenças ou prisões. Afinal, todos merecem amor, cuidado e apoio, independentemente de seu gênero ou situação.

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