Pular para o conteúdo principal

Propósito

 

Eu sempre tive muito a dizer. Sempre quis dividir o que sentia com o mundo. Nasci em uma cidade do interior de Pernambuco e me lembro muito bem de ter dez anos de idade, não ter computador em casa, nem câmera fotográfica digital (tudo isso eram coisas inacessíveis para nós, na época) mas criar meu primeiro blog. Eu sentia necessidade de me comunicar.

Depois, com doze anos, ganhei um telefone com câmera. Era o auge do Orkut, eu já tinha perfil na plataforma e sempre tirava fotos com a webcam da lanhouse. Mas mesmo não tendo computador em casa e não fazendo ideia de como poderia colocar efeitos legais no vídeo, eu já queria gravar conteúdo e postar no blog. O tempo passou, veio o Tumblr, onde eu usava o espaço para publicar meus textos e toda minha versão escritora.

Depois, o Instagram se tornou por muito tempo um refúgio onde eu postava fotos que expressavam o que eu sentia. Me lembro que, em uma época de selfies e fotos posando looks, uma colega de trabalho fez uma piada sobre minhas fotos de flores, paisagens e livros. A mesma colega, com um ex-namorado meu, riu de mim quando descobriu que eu havia feito um canal no Youtube para falar sobre livros. Constrangida, privei os vídeos do canal, diminuí minhas postagens no Instagram de coisas que eu gostava e passei a fazer mais selfies.

Quatro anos depois, eu cortei qualquer contato com essas pessoas. Me senti  triste por ter dado ouvidos às críticas na época e não ter continuado com o que eu gostava de fazer. Se eu não tivesse parado com o canal, talvez hoje já tivesse conhecido muita gente que gosta das mesmas coisas que eu. Mas não lamento pelo que passou. Contudo, enxergo que, hoje, essas pessoas que riram do que eu produzia e de como eu me expressava não construíram nada. Vivem uma vida de fingimento em uma rede social que mascara quem elas realmente são. Mas esse texto não é sobre elas. É sobre resgatar tudo o que eu quero dizer desde que era criança.

Hoje, nada mais além da minha própria vontade pode me impedir de me expressar sem precisar de validação de outros. Eu sempre fui uma pessoa das palavras. Olhar para minha jornada até hoje é reconhecer isso. Eu sempre me comuniquei, sempre quis falar com o mundo. Reconhecer isso hoje é entender que agora eu posso fazer sem pudor algo que eu quero há muitos anos: escrever, me concertar a despeito de qualquer distância, falar o que eu tenho no peito. Eu tenho muito a dizer, desde sempre. Esse é o espaço perfeito pra isso. Pegue seu café e vamos conversar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A mulher tradicional

Eu sempre enfatizo que quando damos um passo, sobretudo em movimentos sociais coletivos, o patriarcado dá dez. Sempre ficamos para trás. Isso se dá pela estrutura e raízes bem fincadas do patriarcado. Recentemente tenho visto nas redes sociais um culto sutil a algumas características e abordagens que reforçam o lugar de submissão e silenciamento da mulher. Vídeos que exaltam a beleza feminina e a elegância sob um viés de recatamento na indumentária, conteúdos sobre uma fictícia "energia feminina" e como se reconectar com ela para ser mais valorizada pelos homens, além do direcionamento sutil de conteúdos sobre culinária e limpeza da casa como algo realizado apenas por mulheres e com um caráter de enobrecimento e realização pessoal através dessas atividades.  Claramente tudo isso faz parte de uma movimentação maior. E um dos tentáculos dessa "desevolução" é um movimento que tem ganhado força através das redes sociais: o TradWife.  O movimento "TradWife" (ou...

Lido: No coração da fazenda

Comecei a ler o livro "No coração da fazenda" da escritora Ray Dias e tem sido uma experiência muito leve. Embora robusto, o livro é muito fluido e de leitura rápida. Pela descrição, imaginei que seria um livro único, mas descobri que ainda há continuações a caminho o que me deixou muito empolgada. Ler as obras da Ray tem sido um mergulho em uma escrita espontânea e com a qual eu me identifico muitíssimo.  A história gira em torno de Bernardo e Nicole. Eles têm um típico amor e ódio, o que a gente ama e dá a narrativa um elemento instigante. A história se passa em um ambiente rural, Nicole se muda da cidade grande para o campo e acaba se apaixonando pela vida lá. Nicole é uma personagem forte e batalhadora, sempre correndo atrás dos seus objetivos sem ter que passar por cima de ninguém. Já Bernardo é um personagem que esconde algo, e ao longo da história vamos desvelando o que ele tem por trás do seu jeito sisudo; foi maravilhoso conhecê-lo ao mesmo tempo que Nicole, pois, n...

Lido: Pheby

O livro " Pheby " da escritora Sadeqa Johnson é uma narrativa impressionante que nos leva a um mergulho profundo na brutalidade da escravidão nos Estados Unidos do século XIX. A protagonista, Pheby Delores Brown, é uma personagem cativante que enfrenta um destino cruel desde o início de sua vida, sendo filha de uma mulher escravizada e do dono da fazenda onde vive. A promessa de liberdade ao completar dezoito anos é uma luz de esperança em sua vida, mas o que se desenrola é uma trajetória de sofrimento e sacrifício. Embora tenha privilégios, Pheby nos traz um olhar genuíno e incontestável do que foi a escravidão nos Estados Unidos.  O cenário sombrio da prisão dos Lapier, apelidada de Terra do Diabo, é o palco central onde Pheby é forçada a se tornar a companheira do homem que comanda o local. Essa posição lhe confere uma aparente autoridade, mas também a obriga a se relacionar com o próprio diabo, enfrentando uma série de sacrifícios para proteger a si mesma e aqueles que am...