Pular para o conteúdo principal

Mentiras por visualizações



Em uma época onde pessoas fazem sucesso instantaneamente na internet por motivos variados (e, em alguns casos, motivos pífios), o que você faria para ter seu espaço como influencer? A personagem Danni Senders fingiu que fez uma viagem dos sonhos à Paris. Porém, ela não contava que, enquanto postava uma foto em um dos pontos turísticos mais visitados da cidade luz, o local estava sendo alvo de um ataque terrorista. Como sustentar a mentira diante desse imprevisto?

Na tentativa de dar mais veracidade ao seu relato, Danni vai a um grupo de sobreviventes. Ela, que tentava ter êxito enquanto escritora na revista em que trabalha, tenta agora construir sua narrativa através das experiências e relatos dos outros. No local, conhece uma jovem ativista, com muita visibilidade nas redes sociais, mas que, ao contrário dela, busca passar uma mensagem genuína para os jovens. 

Danni, com muita ousadia, sustentou a armação até quando pôde. Uma pessoa branca, cheia de privilégios que, embora solitária e depressiva, não fazia ideia de como é o mundo fora da sua bolha, foi longe demais para ser notada, especialmente por um homem de beleza duvidosa. 

A obra fílmica me fisgou completamente. Com críticas assertivas e sensibilidade no tempo certo, me fez ficar dividida entre a empatia e raiva pela protagonista. O filme provoca reflexão e causa incômodo ao apontar muito do que fingimos não ver hoje nas redes sociais. O quanto daquilo é verdade? O quanto é apenas uma boa foto retocada? Quantas pessoas que afirmam ter um propósito nas redes sociais o fazem apenas para ter a visibilidade de um público específico? Eu sempre falo sobre termos cuidado com o poder que damos às pessoas na internet ao clicar na opção "seguir". Ainda hoje mais cedo refletia sobre isso mais uma vez ao ter conhecimento de um perfil no Instagram com milhares de seguidores que destila ódio, comentários maldosos contra mulheres com base nas roupas que elas vestem e ainda dissipa preconceito linguístico. 

Afinal, o que faz uma pessoa ser reconhecida na internet? Por que mesmo pessoas maldosas e abertamente tóxicas ainda conquistam tantos seguidores e até mesmo defensores? Por que pessoas que se esforçam para passar uma mensagem e conteúdo genuínos muitas vezes sofrem tantas críticas ou até mesmo não são reconhecidas? Acho que temos algumas dessas respostas e podemos, em outra ocasião, falar sobre. Mas como eu sempre digo: temos que pensar sobre quem estamos colocando os holofotes nas redes sociais hoje. O conteúdo que eu acompanho e as pessoas que eu sigo podem refletir quem eu sou. 

Quanto ao filme "Not okay", ou "Influencer de mentira" é ótimo e está disponível no Star+. 

Avaliação: 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A mulher tradicional

Eu sempre enfatizo que quando damos um passo, sobretudo em movimentos sociais coletivos, o patriarcado dá dez. Sempre ficamos para trás. Isso se dá pela estrutura e raízes bem fincadas do patriarcado. Recentemente tenho visto nas redes sociais um culto sutil a algumas características e abordagens que reforçam o lugar de submissão e silenciamento da mulher. Vídeos que exaltam a beleza feminina e a elegância sob um viés de recatamento na indumentária, conteúdos sobre uma fictícia "energia feminina" e como se reconectar com ela para ser mais valorizada pelos homens, além do direcionamento sutil de conteúdos sobre culinária e limpeza da casa como algo realizado apenas por mulheres e com um caráter de enobrecimento e realização pessoal através dessas atividades.  Claramente tudo isso faz parte de uma movimentação maior. E um dos tentáculos dessa "desevolução" é um movimento que tem ganhado força através das redes sociais: o TradWife.  O movimento "TradWife" (ou...

Lido: No coração da fazenda

Comecei a ler o livro "No coração da fazenda" da escritora Ray Dias e tem sido uma experiência muito leve. Embora robusto, o livro é muito fluido e de leitura rápida. Pela descrição, imaginei que seria um livro único, mas descobri que ainda há continuações a caminho o que me deixou muito empolgada. Ler as obras da Ray tem sido um mergulho em uma escrita espontânea e com a qual eu me identifico muitíssimo.  A história gira em torno de Bernardo e Nicole. Eles têm um típico amor e ódio, o que a gente ama e dá a narrativa um elemento instigante. A história se passa em um ambiente rural, Nicole se muda da cidade grande para o campo e acaba se apaixonando pela vida lá. Nicole é uma personagem forte e batalhadora, sempre correndo atrás dos seus objetivos sem ter que passar por cima de ninguém. Já Bernardo é um personagem que esconde algo, e ao longo da história vamos desvelando o que ele tem por trás do seu jeito sisudo; foi maravilhoso conhecê-lo ao mesmo tempo que Nicole, pois, n...

Lido: Pheby

O livro " Pheby " da escritora Sadeqa Johnson é uma narrativa impressionante que nos leva a um mergulho profundo na brutalidade da escravidão nos Estados Unidos do século XIX. A protagonista, Pheby Delores Brown, é uma personagem cativante que enfrenta um destino cruel desde o início de sua vida, sendo filha de uma mulher escravizada e do dono da fazenda onde vive. A promessa de liberdade ao completar dezoito anos é uma luz de esperança em sua vida, mas o que se desenrola é uma trajetória de sofrimento e sacrifício. Embora tenha privilégios, Pheby nos traz um olhar genuíno e incontestável do que foi a escravidão nos Estados Unidos.  O cenário sombrio da prisão dos Lapier, apelidada de Terra do Diabo, é o palco central onde Pheby é forçada a se tornar a companheira do homem que comanda o local. Essa posição lhe confere uma aparente autoridade, mas também a obriga a se relacionar com o próprio diabo, enfrentando uma série de sacrifícios para proteger a si mesma e aqueles que am...